Franz Kafka - Carta ao Pai

       Eu nunca tive muita vontade de falar em detalhes — limitados — sobre qualquer livro que eu tenha lido ou sobre algum autor em particular, porém desta vez é diferente, Franz Kafka é genial, explosões mentais já me ocorreram em diversos livros, mas o que me deixou fascinado pelo que Kafka escreve é como ele escreve e os seus motivos. 

    Uma obra de Franz Kafka é algo que se é difícil digerir fácil, não é um livro que se engole, — mesmo que se leia rápido, não é possível absorver tão rápido o que é dito — “A Metamorfose” é simplesmente incrível, grotesco, cruel, incompressível a primeira vista e com final trágico. Só consegui compreender completamente essa obra após ler “Carta ao Pai”, onde se pode entender o proposito de toda a literatura de Kafka, entender a sua estrutura, suas alegorias.

    

    Todas as suas obras foram sobre sua relação com seu pai, palavras dele mesmo em “Carta ao Pai”: 'Meus escritos tratavam de você, neles eu expunha as queixas que não podia fazer no seu peito'. Me identifiquei com a sua consciência ao escrever, eu não me considero escritor, — seria muita prepotência de minha parte — mas de tudo que escrevi de forma literária, alegórica, sempre foi intencionalmente mascarando as queixas que para muitas pessoas nunca pude fazer, pois eu sempre fui covarde demais para dizer o que sentia, afinal aprendi que tentar fazer isso causaria mais problemas.

    O livro “Carta ao Pai” foi concebido como uma carta para ser enviada ao pai de Kafka, — Hermann Kafka — um acerto de contas com o tirado familiar, escrita entre os dias 10 e 20 de novembro de 1919. Kafka nunca enviou a carta ao seu pai, o que reforça ainda mais o que foi escrito na mesma sobre o próprio autor da mesma, um covarde, que fora desde cedo esmagado pelo pai: “Eu teria sido feliz por tê-lo como amigo, chefe, tio, avô, até mesmo (embora mais hesitante) como sogro. Mas justo como pai você era forte demais para mim.”

    Franz Kafka morreu em 1924 sem ter dito ou sequer enviado ao pai tudo que queria ter dito, tanto pai quanto filho nunca acertaram as contas, uma das piores coisas da vida é isso, ter pendências com alguém e nunca mais poder resolvê-las. “Carta ao Pai” só veio ao mundo — parcialmente — em 1937 na biografia de Kafka feita pelo seu amigo Max Brod, o qual apenas em 1950 publicou ela por completo. Kafka publicou pouco, a maioria de sua obra foi publicada postumamente, era quase desconhecido em vida, no fim dela pediu para que Max queimasse todos seus escritos quando partisse, — me identifico com esse desejo de Kafka, mas eu diria que é apenas uma mentira que conto a mim mesmo — pedido que para nossa sorte não foi atendido. No fim, deixou um enorme legado, sendo um dos maiores escritores do século.

    Um dos meus grandes motivos para escrever é a incapacidade de dizer a quem amo certas coisas que sinto, assim se acabam os leitores de minhas palavras, pois quando falo deles eu não quero que leiam, pois se lerem e entenderem que é sobre eles não poderei escapar do embate, o qual tento fugir com todas as forças por um medo irracional, assim como Kafka fugiu do embate ao não enviar a carta a seu pai, mesmo que escrevendo tão diretamente a ele.